Personalidades
CARLOS GOMES
1836 - Em 11 de julho nasce, em Campinas, Carlos Gomes, filho de Manoel José Gomes e Fabiana Maria Jaguary Cardoso. Apelidado de Tonico, inicia os estudos musicais aos dez anos, sob a supervisão de seu pai. Durante a adolescência apresentava-se com seus irmãos na banda do pai em bailes e concertos. Neste período, já compõe músicas religiosas e modinhas.
1854 - Compõe sua primeira missa - Missa de São Sebastião.
1857 - Compõe a modinha Suspiro d'Alma com versos de Almeida Garrett. Fundação da Imperial Academia de Música e Ópera Nacional. No discurso de inauguração, José Amat enfatiza os objetivos da Academia: "A música não é absolutamente a mesma em todas as nações; sujeita às grandes regras da arte, ela se modifica no estilo e no gosto em cada nação, segundo as inspirações da natureza do país, os costumes, a índole e as tendências do povo."
1859 - Compõe a fantasia Alta Noite para clarinete. Apresenta-se, pela primeira vez, tocando piano, num concerto em Campinas, acompanhado de Henrique Luiz Levy. Faz uma tournée com o irmão violinista Pedro Sant'Anna Gomes, através das principais províncias de São Paulo, hospedando-se em repúblicas estudantis. Compõe o Hino Acadêmico, a modinha Tão longe de mim distante e a Missa de Nossa Senhora da Conceição.
1870 - Apresenta-se no Teatro Alla Scalla de Milão com O Guarani, baseada no romance de José de Alencar. No intervalo da récita, vende todos os direitos da ópera para o editor Francisco Lucca por 3.000 liras, que passa a lucrar com a ópera mais do que o próprio maestro. O Rei Vítor Manuel II o nomeia Cavaleiro da Coroa da Itália. Em razão das comemorações do aniversário de D. Pedro II, a ópera é encenada no Rio de Janeiro, em 2 de dezembro. A apresentação se encerra com os gritos do público: Viva o Imperador! Viva Carlos Gomes! Viva José de Alencar!
1871 - Escreve a opereta Telégrafo Elétrico e começa a trabalhar na ópera Os Mosqueteiros do Rei, que fica inacabada. Abertura da Exposição Industrial de Milão com O Guarani, Carlos Gomes é convidado para preparar a apresentação de O Guarani no Teatro Apollo em Roma. Em 16 de dezembro casa-se com a pianista Adelina Peri.
1872 - Contando com a ajuda de seu amigo André Rebouças, apresenta-se no circuito dos grandes teatros com O Guarani: La Pergola (Florença); Carlo Felice (Gênova) Covent Garden (Londres); Teatro Municipal de Ferrara; Teatro Municipal de Bolonha; Teatro Eretenio (Vicenza); Teatro Social de Treviso. Termina de compor Fosca, e encarrega Antônio Ghislanzoni de escrever-lhe o libreto Marinella, mas abandona o projeto. Verdi assiste à récita de O Guarani.
1896 - Já muito doente, chega ao Pará em abril. Morre em 16 de setembro.
Música de Câmara
Carlos Gomes ficou reconhecido internacionalmente como compositor de óperas. O que pouca gente sabe é que ele compôs a partir de um universo bastante diversificado, bem próprio de seu estilo, influências e contexto histórico. No seu repertório encontramos música sacra, modinhas, cantatas e operetas. Quando ouvimos suas modinhas nos lembramos de sua origem interiorana, das festas de salões em volta do piano, dos saraus lítero-musicais tão freqüentes no Rio e São Paulo do século XIX. Nas modinhas e canções de Carlos Gomes encontramos um pouco do lirismo francês e muito dos tons humorísticos das canções italianas, sobretudo a forte presença do estilo verdiano, tão em voga no ensino musical da época. Da sua primeira fase, ainda como estudante de música, destacamos os títulos mais famosos: Hino Acadêmico e Quem Sabe? ambas de 1859. A grande parte dos textos musicados por Carlos Gomes eram de caráter romântico, realçando o estilo melodramático, típico das árias de salão. Carlos Gomes compôs cerca de 50 canções, entre românticas e humorísticas, melodias e temas com acentuada influência italiana, sem esquecer suas origens interioranas. Carlos Gomes é o retrato do Brasil no século XIX, o retrato ainda por fazer, de uma realidade inquieta cujas transformações foram decisivas para os séculos subseqüentes. Uma época de dramas, paixões, alegrias e revoluções para a qual a sua música compõe uma trilha sonora perfeita.
Manuel Ferraz de Campos Salles
Manuel Ferraz de Campos Salles nasceu no dia 15 de fevereiro de 1841 em Campinas, então província de São Paulo. Filho de proprietário rurais cafeicultores, formou-se em direito em 1863 e entrou na política quatro anos depois, como deputado provincial.
Em abril de 1873 foi um dos organizadores da Convenção de Itu, na qual foi criado o PRP (Partido Republicano Paulista), que tinha posição claramente definida contra a monarquia e a favor do fim da escravidão. Em 1885, Campos Salles foi eleito deputado-geral pelo PRP.
Eleito presidente da república em 1898, desenvolveu uma política de apoio à agricultura e de valorização do plantio de café. Recusou-se a adotar medidas de proteção à indústria brasileira.
Na política externa, solucionou os conflitos de fronteira entre Amapá e Guiana Francesa e iniciou negociações com a Bolívia para a anexação do território do Acre. Deixou o governo em 1902 e só retornou à vida pública em 1909 para assumir o mandato de senador por São Paulo. Morreu na cidade de Santos, no litoral paulista, no dia 26 de junho de 1913.
Francisco Glicério Cerqueira Leite
Jornalista, político, maçom e general honorário do Exército brasileiro nascido em Campinas, São Paulo, um dos artífices da Campanha Republicana e único líder republicano paulista presente na corte na manhã histórica de 15 de novembro, dia da proclamação da república (1889). De ascendência humilde, foi tipógrafo, fotógrafo, escrevente de cartório, professor primário, solicitador e advogado provisionado em Campinas. Aproximou-se na juventude do grupo de republicanos em campanha no interior da província. Chamado ao Rio de Janeiro pelos correligionários cariocas poucos dias antes da proclamação da república, participou intensamente das reuniões conspiratórias que culminaram com a queda da monarquia. Com Quintino Bocaiúva e Aristides Lobo, foi responsável pela escolha dos integrantes do primeiro governo provisório. Ocupou a pasta da Agricultura (1890-1891), liderou na Câmara dos Deputados o movimento em prol de Floriano Peixoto e foi chefe do Partido Republicano Paulista e o principal organizador do Partido Republicano Federal (1894), a primeira tentativa de formar um partido nacional. Foi senador pelo estado de São Paulo (1902-1916) e no exercício do mandato chegou a presidir o Senado. Apoiou a candidatura de Hermes da Fonseca para presidente (1910), e foi cotado para compor com Rui Barbosa a chapa presidencial que concorreria ao período seguinte. General honorário do Exército, por participar do governo provisório, morreu no Rio de Janeiro.
JULIO MESQUITA
Júlio César Ferreira Mesquita, que se tornaria conhecido apenas como Júlio Mesquita, nasceu em Campinas (SP), em 18 de agosto de 1862. Filho de família abastada, seus pais – Francisco Mesquita e Maria da Conceição Ferreira Mesquita -- eram fazendeiros de café no Oeste paulista. Com três anos de idade, a família levou-o a Portugal, onde fez os primeiros estudos. Retornou a Campinas com aos oito anos, prosseguindo sua instrução no Colégio Culto à Ciência, onde ficou até 1878, quando se matriculou na Faculdade de São Paulo.
Foi nessa época – entre 1879 e 1883 – que se empolgou com o ideário republicano e, ainda na faculdade, destacou-se como vibrante propagandistas da República, ainda influenciado pelos ecos da passagem de personalidades brilhantes pelo Largo de São Francisco: Prudente de Moraes, Rodrigues Alves, Campos Salles e outros. Sua inclinação para o jornalismo revelou-se em seus escritos no jornal “A República”.
Júlio Mesquita bacharelou-se em 1883 e, no ano seguinte, instalou a sua banca de advogado em Campinas. Casou-se com Lucila Cerqueira César, filha de poderosos fazendeiros, com quem teve os filhos: Júlio de Mesquita Filho, casado com Marina Vieira de Carvalho; Raquel, que se casou com aquele que seria governador de São Paulo, Armando de Salles Oliveira; Esther (solteira); Maria, casada com CArolino da Motta e Silva; Francisco, casado com Alicei Vieira de Carvalho; Sarah, casada com Antônio Mendonça; Judith, casada com Carlos Vieira de Carvalho;Lia, Alfredo, Ruth, José e Suzana, solteiros. A advocacia não era suficiente para os ideais de Júlio Mesquita, pois sua vocação jornalista o chamava para vôos mais altos. Escrevia artigos que, pelo estilo preciso e cultura sólida, despertava a atenção, quer na “Gazeta de Campinas” quanto na recém-fundada “A Província de São Paulo”, que se tornaria o hoje centenário jornal “O Estado de São Paulo”. A partir de 1886, tornou-se redator daquele jornal e, de 1891 a 1927, seria seu diretor e proprietário, iniciando uma grande caminhada jornalística que se transmitiu de geração a geração dos Mesquita. Júlio Mesquita – por seu abolicionismo extremado e republicanismo candente – passaria para a história como o “jornalista da República”, tal a influência que passou a exercer com sua atuação e seu ideário. Com a proclamação da República, tornou-se secretário de Prudente de Moraes, que seria o primeiro governador republicano em São Paulo e, em seguida, o primeiro presidente civil da República. Foi eleito deputado à Assembléia Estadual de São Paulo mas, já revelando o seu inabalável espírito democrático, renunciou ao cargo quando do golpe político desencadeado pelo Marechal Deodoro da Fonseca.Foi, ainda, eleito deputado à Câmara Federal e Senador da República, não chegando, porém, a participar das sessões do Senado, pois passara a dedicar-se exclusivamente ao jornalismo, Julio Mesquita revelou-se, também, notável escritor.
HÉRCULES FLORENCE
O francês de Nice, Antoine Hercules Romuald Florence, chegou ao Brasil em 1824, e durante quase 50 anos viveu na Vila de São Carlos. Morreu em 27de março de 1879, na então já chamada Campinas, e aplicou-se a uma série de invenções.
Entre 1825 e 1829, participou como 2o desenhista de uma expedição científica chefiada pelo Barão Georg Heirich von Langsdorff, cônsul geral da Rússia no Brasil. De volta da expedição, Florense casou-se com Maria Angélica Alvares Machado e Vasconcelos, em 1830.
Em 1830, diante da necessidade de uma oficina impressora, inventou seu próprio meio de impressão, a Polygraphie, como chamou. Seguindo a meta de um sistema de reprodução, pesquisou a possibilidade de se reproduzir pela luz do sol e descobriu um processo fotográfico que chamou de Photographie, em 1832, como descreveu em seus diários da época anos antes da Daguerre.
Em 1833, Florence fotografou através da câmera escura com uma chapa de vidro e usou um papel sensibilizado para a impressão por contato.
Enfim, totalmente isolado e sem conhecimento do que realizavam seus contemporâneos europeus, Niépce, Daguerre e Talbot, Florence obteve o resultado fotográfico.
GUILERME DE ALMEIDA
Guilherme de Almeida (Guilherme de Andrade de Almeida), advogado, jornalista, poeta, ensaísta e tradutor, nasceu em Campinas, SP, em 24 de julho de 1890, e faleceu em São Paulo, SP, em 11 de julho de 1969. Eleito para a Cadeira nº. 15 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Amadeu Amaral, em 6 de março de 1930, foi recebido, em 21 de junho de 1930, pelo acadêmico Olegário Mariano.
Em 1932 participou da Revolução Constitucionalista de São Paulo.
Distinguiu-se também como heraldista. É autor dos brasões-de-armas das seguintes cidades: São Paulo (SP), Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP). Compôs também um hino a Brasília, quando a cidade foi inaugurada. Em concurso organizado pelo Correio da Manhã foi eleito, em 16 de setembro de 1959, “Príncipe dos Poetas Brasileiros”.
Era membro da Academia Paulista de Letras; do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; do Seminário de Estudos Galegos, de Santiago de Compostela; e do Instituto de Coimbra.
Um dos promotores da Semana de Arte Moderna, em 1922, foi fundador da Klaxon, a principal revista dos modernistas.
Traduziu, entre outros, os poetas Paul Géraldy, Rabindranath Tagore, Charles Baudelaire, Paul Verlaine e, ainda, Huis clos (Entre quatro paredes) de Jean Paul Sartre.
Principais obras: Nós, poesia (1917); A dança das horas, poesia (1919); Messidor, poesia (1919); Livro de horas de Soror Dolorosa, poesia (1920); Era uma vez..., poesia (1922); A flauta que eu perdi, poesia (1924); Meu, poesia (1925); Raça, poesia (1925); Encantamento, poesia (1925); Do sentimento nacionalista na poesia brasileira, ensaio (1926); Ritmo, elemento de expressão, ensaio (1926); Simplicidade, poesia (1929); Você, poesia (1931); Poemas escolhidos (1931); Acaso, poesia (1938); Poesia vária (1947); Toda a poesia (1953).
Em 1931, tornou-se co-proprietário dos jornais paulistas Folha da Noite e Folha da Manhã. Manteve a coluna "Sombra Amiga" até o jornal mudar de dono, em 1945; nesse período criou também o Folha Informações (atual Banco de Dados de São Paulo).
HEITOR PENTEADO
Heitor Penteado, nasceu em Campinas no dia 16 de dezembro de 1878 , estudou em vários colégios da cidade, entre eles, o Culto à Ciência. Em 1896, com 18 anos, matriculou-se na Faculdade de Direito, no Lago São Francisco, em São Paulo. Após a sua formatura, voltou para Campinas e passou a trabalhar com o deputado federal Alberto Sarmento e de 1901 a 1910, ocupou o cargo de Promotor Público da cidade.
Com 32 anos de idade, foi eleito em primeiro turno , Prefeito Municipal, cargo que assumiu a partir de janeiro de 1911 e foi reeleito nove vezes consecutivas. Dirigindo a cidade, sua atuação se destacou, principalmente na área financeira, recebendo o cognome de "Consolidador das Finanças do Município."
Trabalhou na construção das praças Carlos Gomes, São Benedito e Luís de Camões,com. a implantação do serviço elétrico, substituindo os lampeões a gás e os bondes de tração animal. Comprou e reformou o Bosque dos Jequitibás; remodelou os serviços de água e esgoto e adquiriu o Palácio dos Azulejos para sede da Municipalidade..
Seu nome está ligado a importantes estradas de rodagem, que vão desde Campinas até fronteira de Minas Gerais, Espírito Santo do Pinhal, Águas da Prata, Vale do Paraíba e outras que cortam o Estado de São Paulo.
No início da década de XX, Heitor Teixeira Penteado credenciou-se para o cargo de Secretário da Agricultura, Viação, Comércio e Obras Públicas, devido à sua ação no governo de Washington Luís.
Neste cargo administrativo, realizou inúmeros trabalhos, destacando-se no campo rodoviário. Abriu as primeiras estradas de rodagem intermunicipais: São Paulo à Campinas, à Riberão Preto, à Itú, Porto Feliz e mesmo ao Rio de Janeiro.
No setor agrícola, incentivou a cultura algodoeira, criando a seção do agodão no Instituto Agronômico.
Heitor Penteado remodelou a Estrada de Ferro Sorocabana, que de deficitária, passou a apresentar saldos. No terreno da pecuária, conseguiu liquidar com a peste bovina.
Em 1924, foi eleito deputado federal e atuou no Parlamento Brasileiro até 1927, ocupando a presidência da Comissão de Marinha e Guerra. Retornando ao Estado de São Paulo, foi eleito também, vice-presidente do governo exercendo a função até 1930. Assumiu, então, a Presidência do Estado em substitução a Júlio Prestes, que se candidatara à Presidência da República.
Segundo o historiador Enéas Cézar Ferreira, em 1878, Heitor Penteado, assumiu o cargo de Presidente do Estado "o ponto culminante de sua carreira política, que exerceu soberanamente sem ter sido molestado."
Tendo se retirado da vida política, pouco antes de sua morte, Heitor Teixeira Penteado faleceu em sua Fazenda São José do Cuscuzeiro, no dia 08 de maio de 1947.
A Fazenda Cuscuzeiro ainda pertence a família como Patrimônio Histórico.
JOSÉ PAULINO
José Paulino Nogueira nasceu em Campinas a 13 de fevereiro de 1853, quinto dos doze filhos de Luiz Nogueira Ferraz e de Gertrudes Eufrosina de Almeida Nogueira, família tradicional, mas de poucos recursos.
Começou a trabalhar aos doze anos naquela loja. Aos 18, o ex-caixeiro era gerente e, logo depois, sócio do patrão na Santos, Irmão & Nogueira, uma casa comercial que os políticos e intelectuais que a freqüentavam apelidaram de “Sociedade Anônima de Interesse Geral”. Ali conheceu Campos Salles, uma amizade que, no futuro, uniu as duas famílias – seu neto, Paulo Nogueira Filho, casou-se com Regina Coutinho (Nogueira), neta do ex-presidente da República.A loja era um centro de atividades sociais que reunia empreendedores preocupados com o interesse público da cidade e da então Província de São Paulo. Ali, Campos Salles, Francisco Glicério, Jorge Miranda, Francisco Quirino, Américo Brasiliense e Salvador Penteado se reuniam para combater a monarquia e defender o fim da escravatura. Tal loja ficava no Largo do Carmo, na esquina das ruas Benjamim Constant e Sacramento; onde hoje existe uma placa de mármore com agradecimento do povo para Bento Quirino e José Paulino quando da epidemia de 1889.Em 1871 integra a Boemia Dramática Campineira, dirigida pelo maestro Sant’Ana Gomes.Em 1885 torna-se acionista da Companhia Campineira Carris de Ferro.
Na última fase do império, já membro do Partido Republicano, José Paulino elegeu-se vereador em Campinas, com Júlio de Mesquita e Salvador Penteado. Em março de 1889, com o primeiro ataque da epidemia de febre amarela, José Paulino foi uma das poucas autoridades que não abandonaram a cidade. A situação piorou e os recursos faltavam. Assumiu o governo de Campinas, mobilizou sócios e clientes da loja e apelou na Capital, para que os amigos Campos Salles e Francisco Glicério arranjassem meios para que se concluíssem os serviços de canalização de água potável e de instalação da rede de esgotos. Só assim a cidade se livraria dos poços e das fossas.
No dia 2 de Abril de 1889, mandou um apelo dramático a Francisco Glicério: “A epidemia recrudesceu bastante de cinco dias a esta parte; pelo obituário, podes calcular o que vai por aqui, é um horror! Não há espírito, por mais forte que seja, que tenha a necessária calma no meio de tanta desgraça. Pobre Campinas. Parece-me que nunca mais poderá levantar-se pujante como já foi. Você, Moares, Campos Salles e outros filhos desta terra, que aí estão com o espírito fresco e calmo, pensem e ponham em prática tudo o que for para facilitar o empréstimo da Companhia Campineira de Águas e Esgotos, que é a única salvação desta cidade. Adeus, até por cá, se vivermos.”
Proclamada a República, permanece na direção da cidade até ser nomeado intendente municipal da era republicana. Em 1890, novo surto da febre castiga Campinas. Ele conduz as obras de saneamento e o povo, agradecido, faz coleta popular de 100 réis por pessoa e inaugura uma placa de mármore na sede da loja para homenagear sua dedicação.
Na Câmara Municipal, o retrato na sala de reuniões leva a seguinte legenda: “José Paulino, o presidente que não abandonou o posto nos dias tenebrosos de 1889”. No discurso, seu médico, Eduardo de Guimarães, ressaltou: “Atacado pelo morbo, esse abnegado campineiro me suplicava: ‘Doutor, eu não posso morrer, porque Campinas ainda sofre muito e precisa dos meus serviços!’”.
Superada a doença, volta à política e é reeleito presidente da Câmara, em 1892, e continua à frente da administração de Campinas. Baixa duas leis: isenta de impostos e taxas as sociedades cooperativas de consumo e um empréstimo de 400 contos de réis, com juros de 6% ao ano, para que a Companhia Carril Agrícola Funilense concluísse sua linha de trem de Campinas ao inóspito e desocupado bairro do Funil, até então isolado da cidade e dos centros mais próximos, Limeira e Moji Mirim.
Mais tarde, já no fim do século, José Paulino e os irmãos Arthur e Sidrack, o cunhado Antônio Carlos da Silva Teles e o genro Paulo de Almeida Nogueira desbravaram as primitivas terras da fazenda Funil (hoje na cidade de Cosmópolis) e lançaram nela a semente da primeira grande indústria de Campinas, a Usina Ester, antes uma engenhoca de álcool. Ester era o nome da filha mais velha de José Paulino.
Sempre empreendedor, em São Paulo, associou-se à firma comissária Teles & Neto, de Santos, e levou para a empresa seu antigo patrão e sócio Bento Quirino dos Santos. Em 1910, assumiu a presidência da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, cargo que ocupou até morrer, a 10 de novembro de 1915. Mesmo à frente da ferrovia, com Dr. José de Queiroz Lacerda e José Egydio comprou a Companhia Agrícola de Cravinhos, uma das mais importantes organizações de café do Estado e precursora da introdução da cafeicultura na região de Ribeirão Preto.
Foi o primeiro presidente do Banco Comercial e fundou, ainda, com Cardozo de Almeida, Urbano Azevedo e Veriano Pereira, a Companhia Paulista de Seguros. Com parte do que
ganhava, ajudava a sustentar a Santa Casa de Misericórdia e o Liceu de Artes e Ofícios de Campinas (hoje Liceu Nossa Senhora Auxiliadora).
Era um empresário raro, com visão completa de como se desenvolve um ciclo econômico, com investimento em fazendas que tornou produtivas, transporte da safra, financiamento bancário da produção, comercialização no mercado interno e exportação.
O cientista Paulo Nogueira Neto, bisneto de José Paulino, observa: “Ele foi um dos paulistas que melhor prepararam o Estado de São Paulo para o rápido e enorme progresso que teve, particularmente a partir dos tempos da Primeira Guerra Mundial. Preocupou-se com a infra-estrutura do desenvolvimento: na agricultura, na agroindústria, no comércio exportador, na atividade bancária, nos seguros, nas ferrovias e na política. Foi para o nosso Estado o que Mauá representou para o Império”.
Foi casado com Francisca Coutinho Nogueira, falecida em 1895. Viúvo muito cedo, não mais se casou. A filha Ester assumiu o comando da casa e serviu de segunda mãe aos irmãos. Seu nome, Ester, foi dado para usina canavieira na cidade de Cosmópolis; ficando assim Usina Ester.
José Paulino faleceu no ano de 1915 na cidade São Paulo e está sepultado no Cemitério da Saudade, em Campinas, próximo de dois companheiros de toda a vida: Moraes Salles e Francisco Glicério.
Seu nome, Paulino, deu nome à cidade de Paulínia; pois um dos bairros que deu origem àquela cidade; chamava-se José Paulino.
É homenageado em sua terra natal, com nome de rua no Centro da cidade.